"Foi moda, no primeiro quartel do século passado, ir-se de veraneio às praias, mesmo naqueles países do Norte da Europa cujos ovos sempre viram no mar a figura do demónio, o inimigo antiquíssimo, cruel e voraz da humanidade. O espírito romântico da época, ao comprazer-se em ruínas, fantasmas e lunáticos, concebia as tempestades nocturnas sobre um descampado, ou o intenso conflito das paixões, como um prazer mais requintado para o connaisseur do que a tranquilidade dos salões e a harmonia dos sistemas filosóficos, e lograra reconciliar os espíritos mais cultos com as solidões eternas das paisagens costeiras e de alto mar. Homens e senhoras da sociedade abandonavam a sombra dos seus parques e iam passear em praias ermas ou contemplar as indomáveis ondas. Os destroços de um naufrágio que a maré-baixa descobria, esqueletos hirtos e negros, salgados, tornavam-se o apetecido local dos piqueniques, onde artistas louros erguiam os cavaletes. [...]"
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
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